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Som e silêncio intercalam-se em nossas vidas constantemente; o som do nascimento e o silêncio da finitude, som do encontro e silêncio da separação, som da saúde e silêncio da enfermidade, som do emprego e silêncio do desemprego, som das bombas e silêncio do cessar-fogo.
É nesse incessante “intercalar-se” que vamos conduzindo nossas vidas, nossa existência humana. Não somos apenas seres, mas como dizia Heidegger somos seres-no-mundo. Não apenas existimos, coexistimos no mundo e com ele.
Esse processo incessante forma os acordes de nossa vida. A música não existiria se existissem apenas as notas, sem as pausas. Nossa existência é estética e musical e é justamente no encontro entre sons e silêncios que se vai revelando.
Quando estamos diante de uma nota musical ou de uma pausa não encontramos a música, mas quando se misturam com outras notas e pausas começamos a percebê-la. Da mesma forma, quando os sons e silêncios de nossa existência são observados isoladamente, não percebemos todo o sentido que possuem e é possível, inclusive, que pensemos não ter sentido, mas depois de algum tempo perceberemos que formaram acordes e estão criando a música de nossa existência.
A vida é um processo estético e mesmo que algumas notas pareçam distorcidas, algumas pausas exageradas ou muito curtas, talvez lá na frente descubramos que eram as notas e pausas certas e que sem elas nossa vida não teria tanto sentido.
Som e silêncio são, portanto, aspectos harmônicos que, ao se combinarem, fazem-nos perceber que não somos apenas seres, mas “seres-no-mundo” e um só com ele.
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